segunda-feira, 13 de junho de 2011

Prato Principal

Formação de professores da EJA em uma Escola de Ensino Médio da rede Estadual em Porto Alegre

O primeiro encontro com este grupo de professores foi realizado no dia 17 de Maio de 2011, à noite. Como o  projeto intitula-se “Cardápios de formação”, iniciamos a noite com um lanche para os professores. Depois disso iniciamos a formação.
O relatório completo desse encontro pode ser lido na íntegra AQUI.
A professora Aline Lemos da Cunha, autora do projeto, iniciou-o com uma breve apresentação: 




Falou do seu 1° momento nesta escola como orientadora de estágio e, agora, seu retorno como palestrante na formação de professores;
Fez breve apresentação pessoal, comentando sua formação e a vantagem de ter feito Mestrado em Rio Grande, sendo esta uma das (ou a única) localidade do país que possui duas universidades federais próximas;
Relatou seu papel de professora – concursada do Estado e Município, como forma de aproximação da realidade dos docentes que ali estavam;
Atualmente trabalha com Estudos Feministas e Educação e está voltada para as práticas pedagógicas especificamente com mulheres, bem como outras formas de intervenção pedagógica com jovens e adultos;
Em seguida, explicou a dinâmica das atividades que serão realizadas na escola e os certificados de participação. Comentou a ideia de trazer as demais bolsistas, além da atual participante (Ana Carolina), para fazerem observações nas salas de aula e entrevistas com os professores e alunos, a fim de registrar as práticas e reflexões que possam contribuir com o trabalho cotidiano da escola.
Aline depois faz uma brincadeira, perguntando: “Como em uma escola havia quadro negro sem giz?”. “Inconformada”, comentou que precisa sempre anotar as coisas, tendo uma vinculação muito próxima com quadros e giz.

Divulgou o Blog dedicado aos professores e professoras da EJA:
Este, vinculado ao projeto de formação realizado em Esteio.
Objetivo do blog: Atua como uma ferramenta de diálogo com os professores, onde são postados textos e atividades.

Ela iniciou a dinâmica da noite perguntando: "Vocês gostam de frutas"? Ao mesmo tempo, mostrava algumas frutas de plástico. Perguntou se todos conheciam a fruta, se comiam e de que forma (sucos, bebida, doces). Conforme as pessoas se identificavam com as frutas, a professora as distribuía entre os presentes. Houve pessoas que queriam ganhar mais de uma, mas foi estipulada apenas uma por pessoa.
Depois da distribuição, os professores deviam:
Se dividir em duplas (uma pessoa com fruta e outra sem fruta);
Depois, juntos, ler as propriedades da fruta (descritas em cartelas elaboradas pela professora);
Após, sugerir uma propaganda incentivando os colegas a consumirem a mesma. Este “comercial” deveria basear-se em suas propriedades.
-> No momento das propagandas, a bolsista Ana Carolina anotou no quadro os nomes das frutas e foi feita uma votação sobre o “IBOPE” do comercial, através da pergunta: “Quem gostou?”.
As duplas foram apresentando sua propaganda de acordo com a fruta recebida. Num primeiro momento, uma das professoras não quis participar, dizendo que “não sabia”, que “não queria”. Porém, após uma breve conversa e incentivos promovidos pela Professora Aline, ela acabou se apresentando e sua propaganda ficou entre as mais votadas.
Depois deste primeiro momento, passamos a identificar características das frutas, adaptando-as às características humanas. Por exemplo:
Assim como o Limão tem gosto azedo, há pessoas que também são consideradas “azedas”. Além disso, também tem a característica de ser uma fruta com diferentes usos - associamos esta característica aos “Severinos” ou “Faz-tudo” que temos em nosso ambiente de trabalho.
Após essas leituras, foi distribuída uma folha (em anexo) contendo as propriedades de cada fruta, porém, “humanizadas”, ou seja, já modificadas de acordo com caracterizações humanas.
Primeiro, individualmente, os professores deviam colocar seus nomes nas características com as quais se identificavam;
Depois, colocar os das pessoas do grupo que, segundo eles, se adequavam às demais características, não necessariamente citando todos os colegas;
No quadro, a bolsista Ana Carolina, anotou o nome da fruta e dividiu no número de características existentes;
Coletivamente, comentaram sobre os colegas que haviam escolhido. Através de votação, foi definida qual fruta representaria cada professor presente.

Uma das propriedades que foi destacada era a da Laranja, transformada em características humanas:
Defender a escola com unhas e dentes (porque a fruta Laranja tem a característica de contribuir na defesa do organismo, contra gripes e resfriados). Sobre esta característica, afirmaram que a pessoa que melhor se encaixava era a vice-diretora, não por sempre defender a escola, mas sim por causa da posição que hoje ela se encontrava (cargo de Direção).

Após a dinâmica, Aline iniciou uma reflexão, falando que podemos perceber que nenhuma pessoa do grupo se encaixou perfeitamente em uma fruta, podendo significar a nossa característica plural (Salada de frutas), ou seja, que não somos estagnados e muitas vezes somos até contraditórios, múltiplos, e é isso que forma o grupo: a diversidade.
Para um professor, seria inviável pensar em uma atividade para cada aluno, e ainda assim poderia não agradar a todos. É esta dificuldade que torna o ato de educar muito complexo, e não é qualquer pessoa com qualquer formação que pode ocupar o papel do professor.
Como professores e professoras, devemos sempre pensar nesta diversidade para promover conhecimento e, muitas vezes, é através da resistência que temos que pensar.
Muitos de nossos alunos, segundo a professora Aline, trazem as características que nós mais detestamos ou que nos incomodam em nós mesmos. Nosso desafio é saber como lidar com estas características fazendo disso conhecimento. Fazer disto um potencial para termos uma prática educativa e uma vida melhor.

A professora Aline comentou sobre a comodidade de muitos professores que utilizam por vários anos o mesmo caderno de planejamento produzido no primeiro ano de Magistério.
Esta época foi quando construíram um planejamento com propostas e atividades diversificadas e interessantes aos alunos.
No segundo ano, aprimoraram seu material com o conhecimento adquirido.
Porém, com o passar dos anos de trabalho docente, ocorreu um processo de desinteresse e acomodação, influenciados pelo desinteresse dos alunos e baixa remuneração.
Com isso, tendem a reutilizar o material produzido nos primeiros de magistério durante toda a carreira.
Os professores conversaram sobre algumas características, como ser ríspido ou sersempre simpático e, a partir disso, lembramo-nos de Paulo Freire, com relação aos seus escritos sobre a diferença entre autoridade e autoritarismo – que às vezes esta relação é difícil de compreender. Também é saudável frisar aqui, que a autoridade do professor em sala de aula está diretamente ligada ao seu conhecimento.
Segundo a professora Aline,“Temos que ter paixão pelo conhecimento e buscar conhecimento”. Isto não significa que iremos saber tudo, mas precisamos busca-lo, pois é nosso objeto de trabalho, e é através dele que teremos nossa autoridade. Aline fez uma crítica ao material didático como o único recurso de ensino, justificando que desqualifica o ensino e nossa profissão. Afirma que não podemos nos acomodar com o livro didático, pois sendo desta forma, qualquer pessoa pode exercer a função de professor e aplicar o livro didático aos alunos, como um manual de instruções. Para finalizar, Aline sorteou o Morango – que na realidade era uma ecobag. Encerramos vendo um trecho do documentário: “Pro dia nascer feliz”. A noite foi concluída com o poema “Eu podia ser uma adolescente normal” e, no final, Aline ressalta o depoimento da estudante do documentário, quando diz que: "Eu poderia desistir de tudo, se não fosse essa minha vontade, disponibilidade de viver”.
E reiterou o convite para o próximo encontro.


REFERÊNCIAS DAS IMAGENS: